§ Sempre me chamou atenção — e serviu como lição — a data em que Alfredo Bosi concluiu o prefácio (“Poesia e historicidade”) para a reedição de seu indispensável O ser e o tempo da poesia pela Companhia das Letras. Sim, 1º de janeiro de 2000. Gosto de imaginar a figura do leitor-escritor inabalável e incansável em sua tarefa, ali, no primeiro dia dos anos 2000 — enquanto a humanidade, entre pânico e ressaca, conferia se o “bug do milênio” tinha, de fato, ocorrido e comido um século de seus registros — pensando sobre a poesia diante da “usura do tempo, roedor silencioso de tantas coisas”. Gosto de imaginar o ano começando assim: dedicado, desde o primeiro amanhecer, às lutas em que mais acreditamos. Gosto de imaginar esse trabalho da esperança — sem folga — cuidando de cada um dos seus mais finos fios.
§§ Ontem, aproveitando a calma do último dia útil do ano para tentar encaixar em algum lugar (menos impróprio que a mesa de trabalho) as pilhas de livros que se acumularam durante o ano (enquanto não se cumpre a promessa de se desfazer e limitar a quantidade de livros em casa, enquanto não começam a nascer as pilhas do próximo ano...), me deparei com essas cinco pequeninas plaquetes que ganhei na FLIP e que, desde lá, haviam me encantado pelo contraponto silencioso e quase invisível que ofereciam à agitação monumental de tudo ali em volta.
As poetas Amanda Ribeiro, Carina S. Gonçalves, Flavia Péret, Leíner Hoki e Luiza Camisassa decidiram fazer assim, à mineira, seu estardalhaço. Inventaram a fugaz Encontrin Edições e colocaram seus poemas numa folha A4 do papel mais comum, cortada ao meio e presa por um grampo, numa montagem sem firulas, rústica, impressão caseira, empacotando, no entanto, suas vozes que nada têm de rústicas e improvisadas (no sentido fraco).
São poemas vivos, cuidadosos, argutos, bonitos, em que mulheres conversam com mulheres por dentro de suas buscas particulares na poesia. E na vida. E na poesia de novo. Talvez por isso, essas conversas dentro de cada plaquete ecoam nas conversas que as plaquetes armam entre si. Entretecem, entrecortam: Encontrin.
Se tiverem a sorte de encontrar uma ou todas elas por aí (quem estava no sarau promovido pelo Círculo de Poemas em Paraty teve a sorte de ouvi-las!), arranjem as suas! Para as minhas, vou encontrar um bom recanto aqui entre esses livros grandalhões e, toda vez que revê-las, lembrar que a poesia é assim: inventa sua forma de passar pelo mundo. Em todos os sentidos. Com os sentidos todos.
§§§ Daqui a alguns dias começa a chegar na casa dos assinantes do Círculo de Poemas a caixinha de janeiro, que traz a reunião dos livros de poemas do imenso Duda Machado e a nossa primeira plaquete com um ensaio, escrito pelo Renan Nuernberger exclusivamente para o Círculo de Poemas.
Poesia 1969-2021 reúne toda a produção poética de Duda Machado: as letras do início de sua carreira, os livros Zil (Grupo de planejamento gráfico editores, 1977), Um outro (que integra a reunião Crescente 1977-1990, da Coleção Claro Enigma, Livraria Duas Cidades, 1990), Margem de uma onda (Editora 34, 1997) e Adivinhação da leveza (Azougue, 2011), além de poemas publicados posteriormente, de modo esparso.
Mistura adúltera de tudo apresenta as reflexões de um dos mais talentosos poetas e críticos da nova geração, o paulista Renan Nuernberger, doutor em Letras pela USP, sobre os sentidos da poesia escrita no Brasil a partir da década de 1970, sua relação com a realidade brasileira de então e possíveis chaves de interpretação para os rumos da poesia dali em diante.
Aqui você tem todas as informações sobre a assinatura do Círculo de Poemas. Se assinar até dia 10/1, recebe o livro do Duda Machado e a plaquete do Renan Nuernberger em sua casa. Existem três modalidades de assinatura: mensal (R$ 74,90), semestral (6 x R$ 69,90) e anual (12 x R$ 62,90), todas com frete incluso para todo o Brasil. Além de receber livros e plaquetes, os assinantes também têm descontos nos nossos parceiros (editoras, livrarias, restaurantes, cursos).
Se couber no orçamento aí, é uma ótima forma de garantir que, uma vez por mês, o carteiro nos ajudará a encher sua casa e sua vida de poesia — estamos trabalhando muito para que cada caixinha seja uma experiência única, potente, inesquecível para as leitoras e os leitores que tornam possível o Círculo de Poemas. No mês seguinte, é possível comprar os livros e plaquetes em nosso site e encontrá-los também nas livrarias.
§§§§ No dia 18 de janeiro, a partir das 19h, tem encontro do nosso clube de leitura, na Casinha da rua Tinhorão, 60. Mui lamentavelmente não estarei com vocês dessa vez, mas sempre tem a Zil, né?, que vale por zil mediadores!
§§§§§ Muito obrigado por ler e, se possível, ajudar a divulgar esta newsletter! Escrever aqui e receber os comentários dos leitores foi uma das grandes alegrias de 2023. Não tenho conseguido — nem conseguirei nos próximos meses — garantir a regularidade que imaginava para as publicações aqui, porque as tarefas no Círculo de Poemas e nas outras frentes da vida andam bem intensas, mas o canal ficará aberto para nossas trocas. Bora!
Texto delícia de ler. Trabalhar dia 01/01/2024 e continuar trabalhando naquilo que nos faz vibrar: poesia. Já passei o link pra Amanda, Carina, Péret... elas vão adorar.
linda edição! e logo a caixinha chega aqui 💙