Soube hoje cedo da morte de Rubens Rodrigues Torres Filho (1942-2023). É um poeta que li muito, sempre com uma admiração tremenda e sabendo que essa era sua face menos destacada, porque o RRTF que muitos conhecem — e a que todos os leitores de Filosofia neste país devem muito — é o tradutor admirável de alguns volumes da coleção Os Pensadores. Desde os anos 1990, quando conheci sua poesia, queria conhecer o Rubens, mas nunca rolou, porque ele já vivia recluso. Enfim, é sempre uma pena a morte de alguém que admiramos tanto, mas continuarei convivendo com ele da forma como convivemos até aqui: com a admiração e a gratidão que só um leitor sabe ter.
Tempos atrás, a propósito, escrevi sobre ele no site da revista Cult. Vai aqui um pedacinho e, ao final para a íntegra, com poemas dele:
«Fazia um tempo que Rubens morava quieto aqui na estante. Lá nos anos 1990, quando embarquei nessa coisa de querer ler toda a poesia que achasse por perto, me lembro de poucos autores que me deixassem tão encantado. E carreguei pra cá e pra lá seus livros de poesia, pequenas joias dos catálogos que já tinham minha especial atenção: Massao Ohno, Brasiliense, Claro Enigma (Duas Cidades), Iluminuras. E foi a mesma época em que comecei a ler alguns dos Pensadores e achava incrível que aquele poeta boa-praça aparecesse como tradutor especialista numa turma complicada, que tinha Schelling, Fichte, Kant, Nietzsche, Benjamin, Novalis. Enfim, um poeta com tanto humor que circulava pelas linhas tão sisudas do alemão – era um ponto a mais pro Rubens na minha cabeça adolescente. E ainda é, de certo modo.» O texto segue aqui.
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Ando meio sumido daqui, mas é por boas razões… :) Vou tomando pé das coisas todas no Círculo de Poemas, em meio ao redemoinho da vida no fim de semestre, para dar sequência ao trabalho lindo dos dois primeiros anos da coleção. E a primeira caixinha do novo ciclo do Círculo é muito especial para mim: quem assinar até 10/1 receberá, em janeiro, nada menos que a poesia reunida de Duda Machado e um ensaio inédito de Renan Nuernberger.
O nome de Duda Machado está associado a um dos períodos mais ricos da arte brasileira – a Tropicália –, que chacoalhou a cena cultural no final dos anos 1960 e projetou nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre tantos outros. Àquela época, Duda foi letrista cantado por Gal Costa, Elis Regina e Jards Macalé. Dali em diante, ao lado da atuação como editor, tradutor e professor, publicou livros de poemas que se destacam pela forma precisa e original como dialogam com a tradição e com as questões do seu tempo.
Este volume reúne toda a produção poética de Duda Machado: as letras do início de sua carreira, os livros Zil (Grupo de planejamento gráfico editores, 1977), Um outro (que integra a reunião Crescente 1977-1990, da Coleção Claro Enigma, Livraria Duas Cidades, 1990), Margem de uma onda (Editora 34, 1997) e Adivinhação da leveza (Azougue, 2011), além de poemas publicados posteriormente, de modo esparso.
Como afirma Heitor Ferraz Mello, a “trajetória [de Duda Machado] é a de um poeta que conhece os limites do lirismo e da confissão do eu, a ponto de evitá-los quando se tornam obstáculos, mas que não os recusa para descortinar a precária condição da nossa vida, nesta quadra perturbadora da história”. Poesia 1969-2021 é, portanto, uma publicação muito importante pelo que recupera da melhor poesia das últimas décadas no Brasil, mas também pelo que esses poemas ainda têm a dizer, daqui em diante.
Duda Machado (Carlos Eduardo Lima Machado) nasceu em Salvador, em 1944, e atualmente vive em Belo Horizonte. Além da produção poética reunida neste volume, é autor dos livros infantis Histórias com poesia, alguns bichos & cia. (1997) e Tudo tem a sua história (2005). No início dos anos 1970, teve suas canções interpretadas por Gal Costa, Elis Regina, Jards Macalé e Gilberto Gil. É professor aposentado de literatura da UFOP e tradutor de inúmeros autores, entre eles, Gustave Flaubert e Mark Twain.
Abrindo a nova temporada das plaquetes do Círculo de Poemas – que agora passam a acolher, além de poemas, também ensaios e entrevistas sobre poesia –, Mistura adúltera de tudo apresenta as reflexões de um dos mais talentosos poetas e críticos da nova geração, o paulista Renan Nuernberger, sobre os sentidos da poesia escrita no Brasil a partir da década de 1970, sua relação com a realidade brasileira de então e possíveis chaves de interpretação para os rumos da poesia dali em diante.
Estudioso da forma como a geração de poetas surgida nos anos da ditadura militar encarou os desafios de escrever poesia (sua dissertação de mestrado, Inquietudo: uma poética possível no Brasil dos anos 1970, foi dedicada a essa questão), Nuernberger se debruça sobre a multiplicidade característica da produção poética daquele momento e investiga suas causas, comentando a forma como essas vozes se distinguem e completam.
A um só tempo, o ensaio de Renan Nuernberger permite ver como a crítica atual tem ampliado seu leque para lidar com a riqueza e a complexidade da poesia brasileira, mas também registra a forma como o olhar agudo de um poeta contemporâneo se volta para seus pares de uma geração que ainda tem muito para dizer – e segue dizendo.
Renan Nuernberger é doutor em Letras pela USP e poeta, autor de Mesmo poemas (Sebastião Grifo, 2010) e Luto (Patuá, 2017). Organizou, com Viviana Bosi, a coletânea de ensaios Neste instante: novos olhares sobre a poesia brasileira dos anos 1970 (Humanitas/ Fapesp, 2018).
§ E tem mais: o Clube do Círculo pra fechar o ano!
Amanhã (14), a partir das 19h, estaremos na Casinha (rua Tinhorão, 60, SP) para o último encontro do ano do nosso clube de leitura. Os livros escolhidos pelo público foram A água é uma máquina do tempo, da Aline Motta, lançado pelo Círculo de Poemas, e Instruções para morder a palavra pássaro, da Assionara Souza, lançado pela Telaranha. Como sempre, é só chegar: para participar dos encontros, não é necessário ter lido os livros antes (ainda que isso seja sempre bom!) nem ser assinante (ainda que isso seja ótimo!). Venha, traga os amigos, pegue sua taça (de água ou vinho), leia e/ou ouça poemas e leve algumas palavras para casa — na cabeça, no coração, na mochila.
Muito obrigado por ler e, se possível, ajudar a divulgar esta newsletter!
Estou muito curiosa para a chegada das próximas caixas da Círculo de Poemas!
E meus sentimentos por sua perda.